Olhos brotam de samambaias que são regadas por vermelhos espalhados por bocas que gritam um grito eterno tropical.
Um mundo em permanente estado de devir.
Um mundo que se constrói e colapsa ao mesmo tempo.
Uma espécie de criatura que é espaço. Microcosmos, já nem tão micro assim.
Começou no papel e ganhou outros meios de transporte.
O corpo, as construções.
(Paro de escrever, as imagens de Manuela vão passando pela minha memória como um desfile. Fico em silêncio, desfrutando)
Lembro que comíamos cuscuz e tomávamos café na kitnet onde eu morava na Santa Cecília, em São Paulo, uns bons anos atrás, quando nos conhecemos e decidimos ser amigas. Um cuscuz amarelo como a luz amarela incandescente daquele apê minúsculo onde cabia tanto desejo. Amarela era nossa esperança em fazer nossa arte viver.
Vejo os amarelos de Manuela e sinto essa luz que sempre permeou o que conheço dela. Crença. Crença com alegria. No que permanentemente se transforma sem deixar de ser-se.
Agora é um instante.
Agora já é outro.
A colagem mudou e eu não me lembro mais como eu era antes disso.
Devir, col(r)agem.
Vânia Medeiros é artista visual.