Dessa obra-sumidouro, verdadeira noite dentro da noite, brota uma flor canibal contagiante, espécie de erva daninha, uma hera senciente que se espalha e nos enlaça, nos levando de volta para o torvelinho de que ela mesmo saiu.
Deve-se encontrar algum crítico que não queira aparecer mais que a obra a ser criticada (excluso, portanto, o presente resenhista), um que talvez assine com pseudônimo, sem que isso seja passível de ser tachado de covardia. Algum estrangeiro, ou candidato a santo.
É impossível passar incólume à leitura ao revés que Morrison faz do mito da torre de babel, quando ela diz que nunca estaríamos prontos para ascender ao paraíso com uma única língua, ou seja, sem a diferença, sem conhecer o Outro, sem viver a dissemelhança, a diversidade, a heterogeneidade, e que talvez o paraíso se encontre justamente aí.
Pelos mistérios da fé da ficção, é a realidade que não importa. Não importa se as histórias que Jeanine diz ter vivido são verdadeiras ou não.
Sendo “Preciso escrever?” a primeira linha de Barley Patch (2009), livro do australiano Gerald Murnane (1939) depois de toda uma década sem escrever ficção. “Preciso escrever?” precisando também ser o primeiro questionamento deste escrito que aqui se encontra.
A narrativa consegue ultrapassar o meramente descritivo e torna-se dramática em seus cortes. No entanto, o efeito mais impressionante é alcançado quando temos diante de nós um personagem de costas em primeiro plano e ele está a poucos passos de mudar o rumo da trama.