Ficção e Poesia | Literatura


travessa do fifó
imagem de Amine Barbuda

linguagem & resistência

março de 2018

Edição: 19


I

convidado para uma roda de conversa

imediatamente pensei q ñ deveria

preparar uma fala sistematizada

apoiada em slides q remetessem

às minhas ações performativas

aos meus livros de poesia

e a uma trajetória q sempre

teve como ponto de convergência

o encontro entre linguagens

entre cultura e política

entre uma escrita performativa e

um ativismo calcado nas práticas

existenciais q diluem fronteiras

– inclusive entre uma ética e uma estética –

{

sistematizada seria uma fala q

primeiramente partisse de palavras-chave

da roda de conversa e fosse a partir de

nomes emblemáticos p/ um itinerário

de leituras e assim esmiuçasse

conceitos

[

linguagem

 resistência

]

p/ em seguida dizer que ñ os

sigo pq ñ os assimilo

}

 

aludindo nessa fala à própria

definição de conceito

citando um nome legitimado hj pela própria akademia

+ q ainda é referência do q se pode

discutir sobre linguagem & resistência

monsieur michel foucault

para quem 2º Norman Fairclough

 

 

os conceitos se constituem como uma bateria de categorias, elementos e tipos que uma disciplina usa como aparato para tratar seus campos de interesse

& imediatamente pensar q no lugar da palavra poética o conhecimento é antidisciplinar transdisciplinar por definição o q resulta ser a minha faleitura uma contradiccão afinal estou numa roda q se configura como mesa pois estão marcados os lugares de fala hierarquizados dentro de uma ordem de discurso e p/ variar estou numa instância privilegiada de modo q tenho juntamente com os companheiros Nelson Maca & Alberto Marlon o privilégio de fala de recorte do q se pode ou não discutir & as perguntas ao fim & ao cabo serão amparadas em nossas falas 1as identificadas como títulos & epítetos

II

diante do q foi dito à guisa

de pedido de desculpas irei mínima

mente situar uma perspectiva de todo

provisória e precária sobre as

supracitadas palavras-chave

por linguagem

entendo

com a ajuda de Pêcheux

uma forma

material

de

ideologia

fundamentalmente importante &

ainda com ajuda do mesmo nome pomposo & francês

do analista do discurso

posso lembrar que a ideologia

funciona pela

c o n s t i t u i ç ã o

(

inter

pel

ação

)

das

pessoas

em

sujeitos

sociais

e suas fixações em posições de sujeito

enquanto ao mesmo tempo lhes dá a ilusão

de

ser

em

livres

& ainda de q

lingua

gem

é

dis

curso

e

vento

dis

cursivo

q se constitui como

texto

dis

curso

&

prática social

 

&de q resistência nessa perspectiva

é ao mesmo tempo a denúncia

da ilusão & a descrença da ilusão

des

ilusão de q

ñ podemos ser

sujeitos

trans

parentes

 

III

 

poesia é ser contra

platão nos expulsou da república pq

nossa verdade é + perigosa q a dos historiadores

silviano santiago em o entrelugar do discurso latino-americano  dixit + ou –

q nós os q vivemos nas margens

só podemos escrever contra pq

o discurso é grafofalocêntrico

– assim como este próprio texto q só cita machos –

e só podemos nos apropriar da linguagem do dominador

através da insurgência & insubordinação

&

glauco mattoso me ensinou um modo de subverter

a forma

&

através da forma

subverter o clichê da vitimização

& se vingar

c/ as palavras

pq ricardo aleixo nos apontou

q a única possibilidade de haver uma boa poesia é ela sendo contra

vejo a ‘boa poesia’ como sendo aquela q é independentemente de seus assuntos contra

contra a língua cotidiana contra a poesia anterior contra os conceitos correntes de poesia contra a poesia da palavra ‘poética’ contra a comunicabilidade fácil contra o difícil da superfície, contra a história contra a ordem política social vigente contra a ditadura do sentido único contra a ideia de identidade (étnica cultural religiosa sexual etc.) enquanto uma ‘ficção’  simplificadora q tem como fim último a exclusão da alteridade contra enfim a enfadonha convicção de que a poesia está morta

IV

aqui  jazz um

poemadissertativoqserecusaaserensaioacadêmicosobrelinguagem&resistência


Alex Simões é poeta e performer.

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