Selfie | Cênicas


Obra de Paulo Gaiad, da série Inferno

_ se esse texto fosse um espetáculo, ele se chamaria… e este aglomerado de pessoas seria…

e eu faria o papel de …

Esta seria a citação que viria da sinopse:

“O espetáculo é o capital a um grau de acumulação que se tornam imagem.” (Guy Debord)

Esta seria a sinopse

No caso, o capital é relativamente pequeno, mas como ele é dinheiro público, todos nos sentimos em divida com a sociedade. Logo, todos queremos apresentar algo muito bonito, bom e digno.

Este seria o seu roteiro

Palco vazio, luz apagada. Eu entro meio perdido no palco e digo que não tenho cena. Alguém me puxa para dentro da coxia, pois estariam todos no backstage. A luz se acenderia, o palco continuaria vazio. Um grupo de pessoas escondidas de lado, outro grupo escondido de outro, o grupo da lateral direita entra e se prepara para pular sobre o grupo da lateral esquerda, que vem correndo e agacha no chão.

Invertem-se os papeis, o grupo que agachava, agora vira o grupo que pula. Assim sucessivamente. Porém, o ritmo aumenta e tanto os pulos quanto os agachamentos vão se tornando virtuosos.

Pausa: eu penso ”o conservadorismo e autoritarismo ficaram escancaradamente expressos quando se negou o reconhecimento da diversidade cultural e social em sua representatividade política, silenciando diferenças étnicas, religiosas, de gênero, de orientação sexual, de classe, cultural e muitas outras, completamente invisibilidades no atual governo ilegítimo. A fronteira entre eu e o outro se rompeu, pois não creio na representação, pois re-apresenta algo que já é (era?) ou já existe, mas penso que essa falta de representatividade dentro desta politica do agora fomenta ainda mais a intolerância e a discriminação com quaisquer grupos que não o “dominante”, as periferias, gerando um quadro que naturaliza abusos e violências, cada vez mais presentes e comuns.” Volto para a cena.

Uma voz em off começa a repetir os nomes das pessoas, que dão os melhores pulos e das que fazem os melhores agachamentos. A voz em off diz: ok. As pessoas param de pular e agachar e descansam, ofegantes. Uma pessoa com sete cabeças desce da cabine de som. Vê-se que controla tudo e a todos. Ela atravessa a plateia em silencio, a passos fortes e lentos. Sobe ao palco. Percebe-se que os atletas tremem. Ela passa por todos alternadamente, em uma ordem especial. Alguns ela toca, alguns ela toca várias vezes. Clima de tensão no ar. A pessoa de sete cabeças desce do palco vai ate a plateia onde há um outro microfone que chia. Ela diz, com voz grave: “Aqueles nos quais eu toquei mais de 3 vezes ficam”.

Pausa eu penso novamente: ” A ideia de Cultura, gestada no seio  da sociedade moderna, veio sendo desconstruída nas últimas décadas  na direção de uma concepção mais abrangente que diz respeito a  diversidade de formas de vida de toda a gente. A multiplicidade de cosmovisões que escapam à órbita utilitarista do mercado e ao pensamento único opressor. Cultura, paulatinamente, passou a ser entendida enquanto uma dimensão transversal das relações humanas sendo fundamental para a reorientação da política e para uma transformação social efetiva. O fim do Ministério da Cultura significa o fim de qualquer possibilidade de mudança política concreta nesse país dentro deste regime de representatividade. Significa o fim dos tempos? Bem eu penso que não pois creio na autogestão – penso eu – pressupõe autonomia e responsabilidade – e na ocupação – que por sua vez pressupõe participação corporal e territorial –  de ideias e pessoas   E daí pergunto: nós não faremos nada?” Volto para a cena.

Os outros saem.” Eu fico na rua e pergunto: Mais isso não é um espetáculo? Ela (as sete cabeças) responde: Não, isto é uma audição do senado. Apaga-se a luz. Fecha-se a cortina.  FIM

Portando eu penso que Cultura não pode ser pensanda como uma pasta ministerial. Tampouco uma parcela da sociedade conformada por seletos eleitos, educados segundo as altas regras da etiqueta. Já há muito, também deixou de ser o campo das artes, de notáveis iluminados, oriundos das camadas mais abastadas da sociedade, com sensibilidade diferenciada. Não é, jamais, uma fatia da economia. É chegada a hora de uma grande convulsão cultural!!!

* montagem critica sobre o espetáculo indigno do golpe politico presenciado por todos nós “espectadores” brasileiro nos últimos recentes meses (estrelado em 12 de maio de 2016). Apoio Rede Globo Produções. Made In EUA.

Ocupatudo!

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