Editorial


Editorial #04

maio de 2016

Edição: 4


A escrita crítica é constantemente pressionada por duas forças: a da linguagem jornalística e a da rigidez acadêmica. Desde o início optamos por ser uma revista digital, aberta ao fluxo das redes sociais, o que evidentemente aproximou o indissociável par produção-leitura, mas ao mesmo tempo nos expôs ao perigo de recair no reme-reme explorador de atualidades, tal qual se observa em grande parte dos sites culturais. E se nessa equipe somos todos artistas formados em escolas de arte, isso nos torna naturalmente predispostos a um endurecimento típico de quem passa grande parte de sua vida jogando com prosódias pré-fabricadas.

Por isso, cada edição é um verdadeiro desafio. Nas reuniões, entre cervejas, cafés e cigarros, passamos horas e horas discutindo não só o futuro da nação (como é comum entre dois taurinos, dois sagitarianos e um escorpiano), mas também sobre o status de nossa escrita-em-crise, a reverberação que cada texto encontra entre os leitores mais próximos, estratégias e novos modos de produção, veiculação e escuta.

Pensar e escrever sobre arte, nesses tempos politicamente frenéticos, poderia parecer um ato bastante dispensável. Mas sentimos que existe, em cada linha que escrevemos, um pensamento urgente, um cuidado e uma permanente auto-(des)construção. Isso, evidentemente, é política encarnada.

A Barril continua sendo um espaço onde o trabalho é revelado enquanto obra, o pensamento é movimento, e a o ato de criticar torna-se revelação e crise. Nosso sistema rotativo de colunas e colunistas, e as diferentes estruturas provocadas a cada escritor, só reafirmam essa vontade de transformação, essa dança do pensamento.

A partir da edição passada começamos a convidar colaboradores externos, e isso amplia ainda mais a complexidade discursiva, a multiplicidade de pontos de vista. Estaremos atentos ao entorno, vislumbrando sempre novas potências a agregar.

Nas duas Críticas desta edição, temos duas vertentes das artes cênicas, o teatro e a performance, contemplados por Daniel Guerra e Igor de Albuquerque, que viram respectivamente Paulada Silva Selva e O Bobo. Os textos são seguidos pelos Rebates dos criadores Paula Carneiro (em conversa com Alex Simões) e Caio Rodrigo.

Na Crítica da Crítica, a nossa colaboradora convidada do mês, Águeda Tavares, lança um olhar provocativo sobre as reverberações causadas pela Crítica de Diego Pinheiro e o Rebate do coletivo COATO a partir do espetáculo A Maçã — um Acontecimento cênico, contemplado na edição passada.

Os performers Diego Alcântara e Malayka SN produziram um Reverbera irruptivo a partir do espetáculo Romeu e Julieta, dirigido por Harildo Déda.

No Encontro temos Diego Pinheiro e a performer, ativista e pesquisadora Ivana Chastinet sentados na grama, sob uma luz branda de final de tarde, no bairro 2 de Julho, conversando sobre arte, política, corpos obscenos e por aí vai.

Desta vez é Daniel Guerra que delira um Rizoma, depois de testemunhar o espetáculo Como Medeia Para Minha Mãe, de Lara Duarte.

Laís Machado Treta, com ajuda da cultura pop infanto-juvenil, o espetáculo Romeu e Julieta.

Na Selfie Diego Pinheiro produz uma contra-ironia a partir de suas vivências durante o espetáculo O Bobo.

Daniel Guerra faz um Ensaio sobre o conceito de acontecimento, essa palavra misteriosamente recorrente, objeto de alguns olhares da edição passada e presente até hoje em sua concepção artística.

Por fim, reiteramos o convite que fazemos a cada edição: chegue mais perto.

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