Editorial


Editorial #08

setembro de 2016

Edição: 8


Sobre o senso crítico soteropolitano.

A cidade é dividida em três polos: a canonização, a cooptação e a indiferença. Dentre estes polos, a canonização crítica é a mais nefasta, pois é ela que promove os outros dois polos. Acima de tudo, a canonização possui a característica da manutenção de um determinado tipo de feitura cênica, propagando a ideia do que seria a linguagem teatral. Consequentemente, a produção crítica se disponibiliza a vigiar e dizer se aquilo é ou não teatro a partir dos chavões críticos que os artistas soteropolitanos estão acostumados a receber e/ou produzir. A canonização crítica também é responsável pelas reproduções, que ganham forma via alguns assaltos estéticos, de modo que em Salvador se diz: “Fiz um Brecht.”, “Fiz um Shakespeare.”, “Fiz um Nelson Rodrigues.”, “Fiz um Beckett.”, “Fiz um realismo.”, “Fiz um absurdo.”. A canonização crítica é um professor de história do teatro autoritário que preza pelo mais do mesmo.

A crítica da cooptação está na lógica do mercado, do próprio capital. Se efetua na tentativa de absorver algo novo, ou algo que ganha foco “no momento”, em sua própria feitura caduca. Salvador é experiente nessa colagem sinistra. Geralmente essa cooptação, que também pode se configurar em um assalto estético, rouba quem ao seu redor produz; o artista roubado fica sem saber do assalto e não ganha referência, como é de praxe, no que se refere aos grandes teatrólogos do século XX.

Já a crítica da indiferença se justifica pela birra estética dos mantenedores do “bom fazer”. É a ferramenta crítica mais eficiente contra uma ameaça à supremacia das reproduções. A esse polo também chamamos de silêncio. Salvador é uma cidade aferrada e não seria diferente no que se tange a obras e outras inciativas culturais. Por isso, a BARRIL tenta lutar contra o silêncio crítico, esse gigante que defende o portão do cânone estético e crítico.

Na 6ª edição da Revista BARRIL temos duas CRÍTICAS: O Sentido e o Homem Torto, sobre a performance coreográfica de Eduardo Fukushima (SP) no IC – Encontro de Artes 2016, eSob o Manto do Bispo, sobre o espetáculo Bispo, solo de João Miguel. Críticas compostas, respectivamente, por Diego Pinheiro e Igor Albuquerque. Eduardo Fukushima compõe o seu REBATE à crítica de Diego Pinheiro.

O ator e dramaturgo Thor Vaz, a convite da Revista BARRIL, atua em dose dupla nesta 6ª edição a partir de seu REVERBERA In Completo, movido pelo espetáculo Bispo (João Miguel) e na Coluna ENSAIO, com o texto Espectro das Divindades.

Na Coluna CRÍTICA DA CRÍTICA, Laís Machado problematiza a crítica sobre obras assumidamente feministas, propondo uma visão além da questão temática, a partir da análise das críticas de Daniel Guerra e Alex Simões, sobre as obras Isto Não é Uma Mulata, Paulada Silva Selva e Obsessiva Dantesca, no texto Entre o Político e o Estético.

Alex Simões apresenta o seu poema rizomático, sob a luz negra da performance da drag queen Nina Codorna, Bohemian Rapsody, no texto Um Rizoma Para Nina Codorna, na Coluna RIZOMA. Alex também encontra o ator, figurinista, cenógrafo, aderecista e enciclopédia viva do teatro baiano, Hamilton Lima, no Beco dos Artistas. Veja na Coluna ENCONTRO.

Por fim, na Coluna SELFIE, a arte educadora, dramaturga e pesquisadora, Bárbara Pessoa, nossa mais nova colunista, traça suas vivências durante a apresentação de Maloquêro, espetáculo de Jhoilson de Oliveira, apresentado durante o evento Terças Pretas, projeto do Bando de Teatro Olodum, no Teatro Vila Velha.

Se joguem!

Boa leitura!

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